Perdia tempo entre tantas cenas. Limpando algumas caixinhas, realizava um trabalho fácil e ágil, dentro e fora dos meus limites, com a preguiça habitual com que vivo e respiro. Trazia algumas piadas sujas e algumas maneiras erradas.
A garota dos grandes alargadores dentro do balcão ria das minhas falas, mau humor constante que se confundia com tantas gargalhadas, quase todas forçadas naturalmente no horário do lanche.
Nossos cafés frios e nossas fumaças, nossas dúvidas eram engolidas rapidamente para uma mais-rápida volta na quadra, relaxando nossos músculos e tirando pesos e medos da cabeça, em apenas algumas tragadas.
Voltava alegre, uma energia instantânea que esfriava rapidamente e discretamente mostrava o cansaço de mais um dia de trabalho forçado. O prazer dos primeiros meses era visível em alguns, e a agonia dos últimos dias brilhavam em meus olhos e de tantos outros.
Coca-cola como combustível, todos queriam fugir daquela grande sala de chão escuro, para um dia fingir, quem sabe voltar. E sentir saudades da mágica que um pouco de dor e a juventude criavam dentro daquela bolha.
Deixei minha gaveta cheia de pertences, coisas minhas, coisas de outros, coisas que não mais uso e algumas que me fazem falta. Quando fui buscar, soube que tudo havia sido jogado no lixo.
Dentro de um saco plástico na beira da rua, alguns pedaços de um pedaço de vida.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
30 Contos: 06 'Pequeno “Sim” Sobre o Não-Sentido'
Uma nova realidade talvez funcione. Uma nova tentativa de algum contato não-físico. Hoje acordei algumas lembranças que já mortas estavam. Alguém que não deveria ter aparecido reapareceu, e assim permiti, e consenti, e lhe falei.
Lembranças, pra que existem? Pra nos lembrar do que não mais quero e não mais tenho? Necessito que alguns pensamentos não sejam tão fixos e tão reais, muitas vezes desleais comigo mesmo.
To implicando com eu mesmo pra descomplicar o eu próprio. Desde sempre que crio alegorias e pinto sobre paradas, meu rádio toca músicas em discos riscados e meus filmes tem cortes nas melhores cenas. Desde sempre que eu existo e desisto de projetos, me refaço em alguns gestos e não sei bem certo como é.
Como ser, como fazer, como sentir, como dizer, manterei minhas perguntas sem cozinhar minhas respostas.
Tédio.
Lembranças, pra que existem? Pra nos lembrar do que não mais quero e não mais tenho? Necessito que alguns pensamentos não sejam tão fixos e tão reais, muitas vezes desleais comigo mesmo.
To implicando com eu mesmo pra descomplicar o eu próprio. Desde sempre que crio alegorias e pinto sobre paradas, meu rádio toca músicas em discos riscados e meus filmes tem cortes nas melhores cenas. Desde sempre que eu existo e desisto de projetos, me refaço em alguns gestos e não sei bem certo como é.
Como ser, como fazer, como sentir, como dizer, manterei minhas perguntas sem cozinhar minhas respostas.
Tédio.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
30 Contos: 06 'Pequeno “Não” Sobre o Sentido'
Tiros e mortes vejo em folhas, algumas cores que me chamam atenção. Minha mesa cheia de revistas, frases já empoeiradas e notícias ultrapassadas pela velocidade incrível em que as coisas acontecem e desaparecem.
Meu pé nem quer saber, se distrai em um vaivém ritmado e cortado pelo bate na mesa. Meus dedos (ágeis, quem sabe) procuram as letras e se repetem. A fortuna em riscos, vejo no papel, sobre a minha mesa, em algumas páginas sobre economia e negócios. Nada entendo.
Horário de trabalho, hora do café. Dois minutos, e passam-se filmes e músicas e danças e visões. Passo o mouse, teclo, passa o tempo.
Percorro os olhos em oito e me abismo por perceber que nem um pouco compreendo sobre toda a funcionalidade da minha mente, ser completo ignorante perto da complexidade que eu mesmo ou eu próprio, sou.
Complexo ou não, falta inspiração em alguns momentos e ela escava pelos meus dedos em outros em faltam palavras. Faltam e sobram ao mesmo tempo. Sempre, ou nunca.
Meu pé nem quer saber, se distrai em um vaivém ritmado e cortado pelo bate na mesa. Meus dedos (ágeis, quem sabe) procuram as letras e se repetem. A fortuna em riscos, vejo no papel, sobre a minha mesa, em algumas páginas sobre economia e negócios. Nada entendo.
Horário de trabalho, hora do café. Dois minutos, e passam-se filmes e músicas e danças e visões. Passo o mouse, teclo, passa o tempo.
Percorro os olhos em oito e me abismo por perceber que nem um pouco compreendo sobre toda a funcionalidade da minha mente, ser completo ignorante perto da complexidade que eu mesmo ou eu próprio, sou.
Complexo ou não, falta inspiração em alguns momentos e ela escava pelos meus dedos em outros em faltam palavras. Faltam e sobram ao mesmo tempo. Sempre, ou nunca.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
30 contos: 05 'Expectativa dos Expectadores'
Além do que mais do mesmo eu reservo todos os dias. Ao acordar já me programo para mais coisas iguais, correndo contra o tempo de entrar no banheiro e sair um novo, café, música, bicicleta, trabalho.
A necessidade que criei de uma rotina calma e por ser calmo me acostumei, sendo meio preso e liberto por isso. Um pouco de vida normal, mas com o sino que bate (bato) sugerindo uma definição de normalidade da minha parte.
A minha parte que definiria nem definida é, a minha parte que se esconde talvez saiba, mas, por medo, não mostra a cara e não dá a tapa. Quem não esconderia um cadáver de si mesmo como forma de negar que ele existe, e por medo nunca abriria aquele refrigerador do porão, ansioso por encontrar aqueles pedaços cortados e não ainda decompostos, como em um filme barato, porém cativante, de Hollywood.
Criando uma ligação, até se compara essa rotina com algum filme, expectadores são só um detalhe. Quem precisa de expectadores com um ego maior que o próprio corpo?
A necessidade que criei de uma rotina calma e por ser calmo me acostumei, sendo meio preso e liberto por isso. Um pouco de vida normal, mas com o sino que bate (bato) sugerindo uma definição de normalidade da minha parte.
A minha parte que definiria nem definida é, a minha parte que se esconde talvez saiba, mas, por medo, não mostra a cara e não dá a tapa. Quem não esconderia um cadáver de si mesmo como forma de negar que ele existe, e por medo nunca abriria aquele refrigerador do porão, ansioso por encontrar aqueles pedaços cortados e não ainda decompostos, como em um filme barato, porém cativante, de Hollywood.
Criando uma ligação, até se compara essa rotina com algum filme, expectadores são só um detalhe. Quem precisa de expectadores com um ego maior que o próprio corpo?
quarta-feira, 20 de maio de 2009
30 contos: 04 'A Insistência Em Subir a Serra'
Bateu na minha janela ontem a noite, e sem pedir pra entrar entrou, esfriou e de longe de mim trouxe aromas. Sem permissão para ser frio como é, trouxe flores para quem nunca se permite. Senti um pouco de medo e um pouco de conforto guardei sob minhas cobertas. Não o deixei tocar.
Não culpado me sinto, mas o frio consente e por mim se sente. Eu trago e assopro, ela diminui e eu uso minha lupa. Aumento algumas questões já esquecidas. Não esqueço as necessárias, reacendendo uma lareira sem carvão.
Fui lá fora por um instante, e senti. O frio voltou, e com ele alguns velhos sabores. Alguns passeios de bicicleta, tardes com chá de morango, ruas com árvores iguaiszinhas, algumas tortas de limão e intermináveis noites de pés-congelando. Não sei bem ao certo se sinto saudades, ou alívio, ou em alguns segundos frustrantes vontade de voltar.
Em certos dias já chorei, em certas horas já ri, e em todos os meus socos e tapas guardados já tirei o necessário pra sentir um pouco de calor. “Onde foi que eu errei” se transformou em “Não sou eu, é você.”.
Subi a serra com algum amor, desci em uma armadura de papel.
Last day of magic, where are you now?
Ps.: Metáforas e metáforas.
Lembrar de jogar as metáforas no lixo segunda-feira.
Não culpado me sinto, mas o frio consente e por mim se sente. Eu trago e assopro, ela diminui e eu uso minha lupa. Aumento algumas questões já esquecidas. Não esqueço as necessárias, reacendendo uma lareira sem carvão.
Fui lá fora por um instante, e senti. O frio voltou, e com ele alguns velhos sabores. Alguns passeios de bicicleta, tardes com chá de morango, ruas com árvores iguaiszinhas, algumas tortas de limão e intermináveis noites de pés-congelando. Não sei bem ao certo se sinto saudades, ou alívio, ou em alguns segundos frustrantes vontade de voltar.
Em certos dias já chorei, em certas horas já ri, e em todos os meus socos e tapas guardados já tirei o necessário pra sentir um pouco de calor. “Onde foi que eu errei” se transformou em “Não sou eu, é você.”.
Subi a serra com algum amor, desci em uma armadura de papel.
Last day of magic, where are you now?
Ps.: Metáforas e metáforas.
Lembrar de jogar as metáforas no lixo segunda-feira.
terça-feira, 19 de maio de 2009
30 contos: 03 'Redinha para Leite'
- Um cigarro – pedi.
- Quem diria, você. – imitando minha tia-avó.
- “Quem diria, nós” – pensei.
- Quem diria e quem imaginaria – eu disse.
- Isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei. – saíram da boca junto com a cinza fumaça que fez um desenho no ar, se confundindo com o azul escuro do céu e alguns animais que dançavam em forma de nuvens. No cigarro amarro minha fé no café, em cada sacada.
O céu que só naquele canto da casa me entristece, fato de não agora oferecer. Quebrado por não saber mais aonde encontrar. Aceitaria a mais brega manta sobre meu sofá verde se pudesse reacender alguns dias novamente, e deixá-los queimar, como tantos outros.
- Já reviramos esse assunto várias vezes, e nada de novo – tomando um gole de café, e mais uma tragada de cigarro, ele disse – e isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei.
- Apaga algumas coisas que a gente não precisa. – pedi apagando a ponta do cigarro. – “Alguns dias. Algumas semanas e talvez alguns segundos. Talvez, alguns.” – pensei.
Sem perceber, todos os vícios jogados as três da madrugada, dentro de uma bola de borracha com água, pela sacada. Eu corria e via algumas sombras vindas de fora. Esperando que o tempo não passasse, passando por tempos que não esperava, um pouco atrasado, um pouco culpado.
- E isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei. – em mais um desenho de fumaça, algum outro dia – e poderia apagar algumas coisas.
Nem tão tarde demais, em formas que não reconheço, nas nuvens procuro enxergar como metades são criadas. E sem culpa acendo mais um cigarro.
- Quem diria, você. – imitando minha tia-avó.
- “Quem diria, nós” – pensei.
- Quem diria e quem imaginaria – eu disse.
- Isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei. – saíram da boca junto com a cinza fumaça que fez um desenho no ar, se confundindo com o azul escuro do céu e alguns animais que dançavam em forma de nuvens. No cigarro amarro minha fé no café, em cada sacada.
O céu que só naquele canto da casa me entristece, fato de não agora oferecer. Quebrado por não saber mais aonde encontrar. Aceitaria a mais brega manta sobre meu sofá verde se pudesse reacender alguns dias novamente, e deixá-los queimar, como tantos outros.
- Já reviramos esse assunto várias vezes, e nada de novo – tomando um gole de café, e mais uma tragada de cigarro, ele disse – e isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei.
- Apaga algumas coisas que a gente não precisa. – pedi apagando a ponta do cigarro. – “Alguns dias. Algumas semanas e talvez alguns segundos. Talvez, alguns.” – pensei.
Sem perceber, todos os vícios jogados as três da madrugada, dentro de uma bola de borracha com água, pela sacada. Eu corria e via algumas sombras vindas de fora. Esperando que o tempo não passasse, passando por tempos que não esperava, um pouco atrasado, um pouco culpado.
- E isso tudo que existe ao meu redor, fui eu quem criei. – em mais um desenho de fumaça, algum outro dia – e poderia apagar algumas coisas.
Nem tão tarde demais, em formas que não reconheço, nas nuvens procuro enxergar como metades são criadas. E sem culpa acendo mais um cigarro.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Fiz zunzum e pronto (acabou chorare).
30 contos: 02 'Mamãe de Cueca'
Enquanto eu digo que nunca ficarei igual a quem nunca como igual me espelhei, aparecem traços no vidro espelhado que repelem a idéia da minha cabeça: eu sou mais parecido com ele do que talvez queira, ou não queira. Se quisesse talvez não fosse, mas em minhas contas atrasadas e meu cabelo mal lavado a confirmação pula, e com vergonha a aplico, e multiplico, por tantas vezes replico e não me faço entender.
Se fugi tantas vezes não me escondi nem privei. Se elaborei lógicas mentiras, para meu prazer escapei. Corri ao sossego quando precisei, e fugi quando precisou.
Ralei minha perna no muro ao lado do pé de tangerina.
Tingi meu pai em memórias não memoráveis.
Resolvi descer daquela roda gigante com cheiro de mato e fazer valer meu ingresso de entrada. O parque de diversões que pegou fogo quando fiz onze nunca teve brinquedos funcionando. As máquinas até hoje no mesmo sótão enferrujam, com sua (talvez nossa) preguiça.
E de repente, mamãe entra de cueca.
Se fugi tantas vezes não me escondi nem privei. Se elaborei lógicas mentiras, para meu prazer escapei. Corri ao sossego quando precisei, e fugi quando precisou.
Ralei minha perna no muro ao lado do pé de tangerina.
Tingi meu pai em memórias não memoráveis.
Resolvi descer daquela roda gigante com cheiro de mato e fazer valer meu ingresso de entrada. O parque de diversões que pegou fogo quando fiz onze nunca teve brinquedos funcionando. As máquinas até hoje no mesmo sótão enferrujam, com sua (talvez nossa) preguiça.
E de repente, mamãe entra de cueca.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
30 contos: 01 'Molde'
Deixando pedaços de pão no chão, busco um papel para fechar minha monotonia e buscar um pouco de paz. O gato preto laranja senta em meus pés e passa sua cabeça em meus pêlos da perna, pedindo atenção. Não atento, tento fugir e me contento com um programa fácil na TV. Minha última tentativa como independente vira fumaça quando o celular toca e você despeja suas vontades que por mim devem ser ditas.
Dito isso deito.
Dito e feito, choro.
Ligo para minha metade, diabos de celulares que nunca funcionam. Descarregam enquanto quem descarrega em água sou eu. Toques e soluços coordenados e embaralhados, logo fecho os olhos e os pêlos do gato preto laranja em meu ombro. Me assombro com a vontade de gritar. Não procurando pela minha primeira vez alta, assumo (eu sumo!) que baixo posso novamente pagar e tentar por um pequeno e caro preço.
Não quero mais me dissolver em pó para em água virar argila.
Saí do meu molde.
Dito isso deito.
Dito e feito, choro.
Ligo para minha metade, diabos de celulares que nunca funcionam. Descarregam enquanto quem descarrega em água sou eu. Toques e soluços coordenados e embaralhados, logo fecho os olhos e os pêlos do gato preto laranja em meu ombro. Me assombro com a vontade de gritar. Não procurando pela minha primeira vez alta, assumo (eu sumo!) que baixo posso novamente pagar e tentar por um pequeno e caro preço.
Não quero mais me dissolver em pó para em água virar argila.
Saí do meu molde.
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