É meia noite e cinquenta e seis, cinquenta e tantas músicas que já tentei ouvir e apagar com falsas pretensões o branco cada vez maior que entendo e pressiono como vazio dentro do espaço do meu quarto.
É escuro, é quadrado.
Em um canto, algumas roupas jogadas, tênis empilhados, almofadas largadas e não usadas, que teriam seu lugar certo senão fosse meu relaxo e minha falta de vontade de ajeitar o que teoricamente é ajeitado. Mesma falta que me impede de ter disciplina com meus textos, minhas tarefas e minha saúde. A falta que me faz e que não me deixa fazer. Falta vontade de escrever, de andar, de acordar. É frio, é inverno, e quase todos os dias acordam muito cedo e terminam muito tardes, sempre de início cinzas e em todo o seu percurso não se colorem, só suavizam seu tom em alguns momentos, mas vai de encontro ao preto enquanto mais passa. E termina frio, na minha cama. Quando debaixo das cobertas me encontro e a umidade do chão tão perto chegam até minha pele, em cinzas me desfaço, ou assim preciso e quero. Continuo quase inteiro, se não fossem pedaços dos quais nem sinto falta já se decomporem.
Mais um dia em que todos os meus eus são desperdiçados comigo mesmo, sem dar um pouco do que sou para receber de quem é, que me mantém vivo e me dá motivos. Mais um dia que começa igual e teima em demorar, mais uma semana.
Talvez eu tenha a ela, a cidade, a quem ainda não me entreguei. Talvez seja por isso que ela não me presenteia mais todas as manhãs com o cheiro de baunilha. Eu nunca lhe devolvi o agrado. No máximo uma caminhada no calçadão pra fumar um cigarro, mas meu comprometimento com essas ruas ainda não foi firmado.
Não sinto mais o vento forte que cortava meu rosto, no percurso de bicicleta até o trabalho. O pneu da bicicleta está murcho a semanas, e não me importo em cansar mais minhas pernas. Não tenho paciência para resolver coisas inúteis, como enxer o pneu da bicicleta. De imaginar, parar no posto de gasolina e encher o pneu, já me irrito com todo o caminho mental e o (não) esforço físico.
Ouço as mesmas poucas músicas a muito tempo. Sem saco para ouvir novas vozes, novas frases, novas melodias que se repetem. Sem saco para ouvir as antigas. Sem saco para ter saco. Sem saco para mim mesmo e essas neuras intermináveis e, às vezes passageiras.
Droga de crise de adolescência tardia. É isso? É uma versão aos 21 dos conflitos plastificados na “Malhação”? É patético a esse ponto?
Maldita psicanálise, que explica tudo. Por que diabos a explicação tem que ser tão óbvia? Qual é a razão da crise, de sentir a agonia de ser se o porquê está debaixo do meu nariz, tão visível quanto invisível, tão absurda, complicada e infantil. Tão complexa de sentir e ridícula de se assistir. Qual é o ponto em que isso tudo tem que realmente acontecer, tanta idiotice mental por instantes,tanta desnecesidades, tanto medo de nada se tornando pavor de tudo? É excesso de inteligência ou a falta dela?
Quem disse que todas essas coisas são necessárias? Quem disse que todas essas perguntas precisam de respostas? Quem me dera um dia acordar ignorante e sem sentido, sem enxergar nada além da vida mediocre que a maioria vive, sem se preocupar com significado de alguma coisa que ninguém de verdade deve saber. E será que quem soube um dia não foram suicídas, que por algum motivo o qual ninguém sabe, resolveram terminar suas partes nessa história sem pé nem cabeça.
Definitivamente minhas falas e minhas ações nessa peça nem começaram. Se for pra abusar das ridículas e pretensiosas metáforas que eu tenho usado até agora (veja bem, eu comecei esse texto cheio delas), eu poderia dizer que isso tudo é só o ensaio pra uma grande peça, e eu tô perdidamente perdido nos corredores dos camarins, sem saber a hora de entrarem cena e como construir meu personagem.
Auto aceitação em dúvida, auto estima em baixa? Diabos. Só queria sair de mim mesmo por alguns segundos, pra, talvez, ver que nem tudo é tão complicado assim, e que não passa de tempestade em um copo de água. Um ponto de vista internamente externo. Talvez um clone de mim mesmo seria meu melhor terapeuta, ou só me deixaria louco.
Enfim, no fim passa-se meia hora de várias palavras e dentro, a mesma sensação.
O trem buzina lá longe. Minha perna adormeceu. Meus olhos teimam em piscar de sono. 01:23 é a hora em que eu realmente percebo que eu odeio Interpol.
Eu to assim, ultimamente. Me inspiro no que é teu, pq é meu, é nosso. Eu me sinto o seu pneu da bicicleta, então eu entro no seu blog, pego na mangueira de suas ideias - pode sexualizar se quiser, SE QUISER - e encho-me toda.
ResponderExcluirFico gorda.
Mas acho que sou capaz de me gostar assim, ofegando pra subir escadas.
Eu descubro que detesto a voz de Elba Ramalho em musicas ruins.
Eu vou morrer antes de você, eu acho.
Então me encha de suas palavras, para eu ser uma Rocha que rola. Ladeira abaixo.
tá aqui. http://basileesco.blogspot.com/2009/08/aos-pedacos-escrito-hoje-em-homenagem.html